Estão a ver esta pirâmide que tenho na mão? Sim? Mesmo mesmo?
(Seguro-a por uma ponta, elevo-a pendurada e informo que se trata de uma pirâmide quadrangular.)
De certeza que estão a ver?
Várias vezes o coro de sins com mil sorrisos de cumplicidade.
Já sabem que só nós é que conseguimos vê-la... qualquer pessoa que aqui entrasse agora não veria nada pendurado na minha mão...
Pois é professora, só nós é que temos o poder.
Sim. Só nós.
Agora, para eu ter a certeza de que estão a ver tudo bem visto, preciso que me contem o número de vértices, arestas e faces. E, já sabem, tal como falámos ontem, usem a lógica, usem a razão. Essa coisa de contar com os dedinhos sem perceber a relação entre estes elementos e o sólido em causa, com frequência leva a erros. Sejam críticos, analisem a resposta, verifiquem se é possível...
Sim. Está bem.
Aqui vai... Quantos vértices tem esta pirâmide?
Olham para o vazio na minha mão (braço já cansado de elevar uma pirâmide invisível) e dedos no ar pedindo para responder.
Diz lá tu C.
São 5.
Hummm... anda cá explicar isso.
Levanta-se. Avança para mim. O dedinho aponta cada um dos invisíveis vértices e a voz explica que nem era preciso. Pois se a base é um quadrado, professora, são quatro em baixo e um em cima. Esse por onde a professora está a segurar nela. Sorriso enorme... (Segurar o quê? Todos conseguimos ver o que lá não está e ao fim de uns minutos já nem questionamos isso.)
Já me dói o braço. A pirâmide é pesada. (Mudo-a de mão, sacudo o braço cansado.)
Professora!
Sim?
Posso ser eu a pegar nela?
Podes. Toma lá. Mas eleva-a alto para todos a verem...
Entrego-a. Ele recebe-a. Eleva-a como lhe pedi. Ar sério.
A aula continua. Oh professora! O número de vértices e de faces nas pirâmides parece que é sempre igual! Ai sim? Por que será? E será que é para todas elas? Porquê?
Novos desafios, mais caminhos.
Agora são eles a propor aos colegas novos sólidos. Sustentando-os com a convicção de uma fantasia que torna tudo bem real nestas idades.
Claro que lhes explico com seriedade a importância da abstracção. De passar do modelo real, ao modelo na nossa mente. O que isso implica de conhecimento, de estudo, de relação entre tudo o que se vai aprendendo. Falamos da importância do uso da memória. Ferramenta fundamental para poder fazer crescer a compreensão do mundo, através dos fios que tudo vão ligando.
Sabemos navegar entre a fantasia, que também é coisa para levar muito a sério, e a importância de crescer na nossa percepção do mundo, que nem sempre terá os objectos do conhecimento à mão. A aula torna-se exigente. Aprendem a expressar argumentos, a explicar raciocínios e respostas.
E agora?
Agora basta atirar o sólido ao ar e ele volta lá para cima, para o céu dos sólidos.
Quando precisarem de um... basta estender a mão, pensar nele e... ele estará de volta!
Oh professora...
Sim?
Esta aula foi muito gira...